Quando Gal morreu, muitas de mim morreram também. Lembro que naquela semana aprendi um novo português, andando pelas ruas amarelas de Paris, de noite, enquanto escutava Fruta Gogóia, a todo vapor. Gal me trazia o cheiro de peixe na feira perto de casa, a bela Ipanema às seis da tarde e o sol de Salvador. Tudo em volta está deserto, tudo certo. Tudo certo como dois e dois são cinco. Meu amor.
Quando Gal morreu me lembrei desse fim que a vida tem. E do compromisso que a gente tem que ter com a arte no meio do caminho. Pode parecer um papo burguês com lagosta, mas eu juro que não é não. É o brilho de tudo.
Quando digo arte digo escrever cartas de amor. Me matriculei numa oficina e comecei a escrever cartas para namorados que eu nunca vi. Assisti Central do Brasil e chorei, e parece que agora o que mais quero é ser “escrevedora de cartas” por um real, dois se quiser que ponha no correio.
Já não sei mais o que escrevo, mas lembrei do meu outro compromisso, além da arte, com essa newsletter aqui que vos fala e me pus a redigir esse texto.
No fundo, só queria te dizer que as vezes arte é sair de manhã para comprar meia calça e batom vermelho. É o cinema de quarta-feira e a escuta atenta do outro com a mão na boca. É o lembrar que a gente erra. Que em todo excesso, esconde-se uma falta. E que a vida há de ser bonita. Meu amor.
Indicação de álbum: Gal A Todo Vapor (Live)
Indicação de filme: Central do Brasil (1998)
tenho saudade do meu pai. tenho saudade de tudo.
Indicação de livro: Torpedo (2023)
Pra olhares sensíveis, coisas que parecem pequenas tem grande afeto, é mesmo o brilho de tudo. Obrigada pela lembrança desse compromisso com a arte, a gente lembra de estar viva <3