#09 você precisa viver o grande para entender o pequeno
A ferro e fogo não dá, com tanta indiferença vendo a vida passar
No início desse ano, ainda em terra Brasilis, essa frase veio ao meu encontro. Só quem já viveu o grande, entende o que pode ser pequeno. Explico. Com uma agenda repleta de afetos pendentes, antigos e novos, para eu rever no Rio — pessoas que eu fazia questão de sentar no sofá e perguntar com os olhos "e aí, como é que você tá?" — faltou calendário para o tanto de sofá, cadeira de bar e canga de praia que eu havia me proposto.
E em uma dessas faltas de datas disponíveis, perdi o aniversário de uma grande amiga em um samba de sábado chuvoso. Uma amiga que hoje responde por duas amigas, porque carrega em si um ser já no seu terceiro trimestre de vida. O quanto que eu fiquei arrasada e triste comigo não cabe nessa crônica. Inclusive, só consegui pedir desculpas para ela por áudio e no dia seguinte. No que ela, no auge do seu beta HCG e com toda calma do mundo me responde: o quanto eu era especial, o quanto ela era grata pela gente e que estava tudo bem.
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As minhas melhores amizades sempre me ensinam um tanto, muitas vezes, sem terem a menor noção disso. E naquele domingo apocalíptico de invasão da praça dos Três Poderes, lendo aquela mensagem, experienciei uma calma estranha com a certeza de que quem vive o grande, conhece o pequeno. Porque não há duvidas de que uma mulher que gera um filho no ventre conhece o grande, e automaticamente, consegue classificar e acessar o pequeno com muito mais clareza.
E isso foi uma das verdades mais belas que já cheguei perto. Uma ressalva aqui logicamente as múltiplas subjetividades, posto que não é necessário parir para alcançar o grande. Em toda nossa vida, experienciamos aquilo que pode ser chamado de amplo-largo-majestoso, momentos tão infinitos que fica quase impossível classificarmos entre o horrível ou o maravilhoso. Porque momentos grandes sempre abarcam os dois.
Tudo isso muito me fez pensar na régua insignificante que carregamos, mesmo adultos, durante a vida. Uma régua que exclui aqueles que mais amamos, em nome do banal. Porque as vezes não levar a vida tão a sério, seja justamente levar ela a sério.
Outro ensinamento enorme que já tive no começo desse ano foi o valor de uma conversa honesta e presente mesmo em momentos complicados, mas isso fica para uma outra história. No mais, as minhas melhores amizades sempre me ensinam um tanto, (e agora elas tem a noção disso).
Esse texto é em nome do meu amor, LR.
costumo te ler enquanto o tempo passa na esteira da academia. de certa forma, você me lembra clarice e sua maneira de esclarecer e colocar em palavras escritas o que eu penso ou já pensei. seus textos me deixam, de alguma forma, com mais vontade de viver e de entender essa vida. baita inspiração pra mim, obrigada Bea 💗