Nem acredito que vou começar uma crônica citando um vídeo de TikTok. Explico, até pouquíssimo tempo, esse era um continente que eu nunca havia habitado. Pensava ser povoado por pessoas bem mais novas do que eu, com dançinhas regionais e com uma rapidez de telas em todos os cantos que me davam quase vertigem. Estava muito contente em ser uma residente com CEP exclusivo do Instagram, até trilhar algumas vezes o novo território, e encontrar o que essa ilha tem como de melhor: o seu oráculo - na forma de algoritmo. Logo, me vi recebendo verdadeiros conteúdos segmentados pelos meus múltiplos interesses, em momentos muito oportunos, que me renderam gostosas risadas, e muitas vezes, reflexões.
E foi assim que eu encontrei o vídeo da Ana Schreder que dizia como a sua relação com ela mesma demorou muito tempo para ser considerada “boa”. Dessa forma, depois de citar uma conversa que ela teve com sua psicóloga sobre o porquê do seu desinteresse por uma pessoa ao seu redor que a tratava tão bem, a mesma disse que: a gente só sente atração por aquilo que é conhecido pela gente. “Ou seja, se eu me relacionava com caras que me tratavam mal é porque no fundo, eu me tratava mal. Se eu me relacionava com caras que não me davam valor, era porque no fundo, de alguma maneira, eu não me dava valor”, aspas do vídeo.
A parte boa é que ela, depois dessa resolução, começou pela primeira vez na vida a valorizar aqueles que a tratavam bem. Olhar para eles e pensar “eu mereço ser tratada dessa maneira”, entendendo que suas relações externas refletiam aquilo que se passava internamente, o que rendeu um bom diagnóstico da sua auto-estima.
Tudo isso muito me fez lembrar de um estudo antropológico controverso que li essa semana sobre uma professora do Arizona, que “se fez de aluna” por um ano para entender as lógicas de comportamento daqueles que realizavam talvez um dos maiores ritos de passagem estadunidense: ingressar na faculdade. Cathy Small após morar em dormitórios de uma faculdade que ela preferiu chamar de AnyU, e participar de atividades que supostamente existiam para integrar os alunos da faculdade, concluiu que os alunos dificilmente teciam laços profundos a partir de atividades animadas por aqueles exteriores as suas vivências. Pelo contrário, os principais motivos que levavam ao comportamento gregário entre os jovens, era justamente as suas origens pregressas. Novamente, nós nos atraímos por aquilo que nos é familiar ou meramente conhecido.
Por isso que estrangeiros buscam outros migrantes da mesma origem ou próximos intuitivamente enquanto estão em terras estranhas.
Mas voltando a resolução da Ana, longe de isso virar uma sessão analítica possível de ser lida por centenas de pessoas, o vídeo me fez questionar muitos comportamentos que eu reproduzo há anos sem me dar conta do porquê. Entre eles, não gostar de fazer aniversário, ou valorizar muito mais, em vários momentos, aqueles que não se importam comigo, em vez de dar atenção e acolhimento a aqueles que eu sei que me amam. Vai entender (e vou mesmo).
No mais, sigamos com o melhor mote do século, entoado pelo sábio RuPaul Andres Charles: “And remember, if you can’t love yourself, how the hell you gonna love somebody else, can’t I get an amen after here?”
Indicações todas em espanhol hoje pois temática: 🇪🇸
Indicação de série: As garotas do fundão (Las de la última fila) - Netflix
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