#54 a procura da voz autoral

Doechii, Grammy 2025, e a criação que parte da originalidade

Feb 06, 2025

No dia 12 de janeiro de 2020, Jaylah Ji'mya Hickmon postou um vídeo no Youtube. O assunto, na época, era sua demissão em uma das franquias da rede de fast food Chipotle. Entre os barulhos de pringles e uma conexão bem lenta de internet, ela não parece se lamentar em nenhum momento. Aliás, muito pelo contrário. Em tradução livre, no vídeo de um pouco mais de minuto, ela diz:

(…) de qualquer forma, eu vou ser ser honesta, talvez amanhã, eu bata de porta em porta em estúdios ou gravadoras, porque eu não tenho literalmente nada a perder. Eu não tenho casa, nem trabalho, nem filhos, quem se importa?

Cinco anos depois, a cantora de vinte e seis anos, Doechii recebe das mãos de Cardi B, a segunda vencedora em cinquenta anos na categoria, o Grammy de melhor álbum de rap do ano. Ao lado da mãe, sua maior motivadora, ela diz:

(…) Eu coloquei o meu coração e a minha alma nessa mixtape. Eu me expus, desnudei a minha vida e me dediquei à sobriedade, e Deus me disse que eu seria recompensada e que ele me mostraria o quão bom isso podia ser.

Ainda impactada por ambas as cenas, protagonizada pela mesma pessoa em momentos tão distantes e em tão pouco tempo - lembrando como a vida é um poço de tudo que é efêmero. Há alguns meses, comecei uma pesquisa mais aprofundada sobre o processo criativo e artístico da Swamp Princess e rapper da Florida, e quero me deter a alguns detalhes:

Primeiro, é importante ressaltar que Doechii é uma amante do processo. E que registra não só os seus pensamentos, mas também suas confusões, áudios de amigos e desabafos pessoais - É por isso que temos acesso ao primeiro vídeo, que em uma espécie de testemunho viralizado após a premiação, conta uma história de superação para muitos - nos lembrando que nada acontece do ontem para o hoje, tudo é um monte de ontens, de processos infinitos, conscientes ou não e de movimentos pequenos que, eventualmente, tornam-se enormes.

"Either way I'm gonna be straight", ela diz no áudio original, retomando para algo que dizia antes, mas também já em um prenúncio do próprio futuro. De qualquer maneira, eu vou ser honesta. Assim, precisou se ver diante do abismo da falta de perspectiva para ouvir o eco que já habitava em sua intuição, registrando todos os passos - sem medo dos comentários - ou dos olhos gordos e magros.

Conseguiu não apenas ser uma estagiária, mas foi contratada por uma gravadora. No entanto, mesmo assim, não conseguia cumprir os pré requisitos da tal fórmula para o sucesso, e se sentindo empacada na carreira, - decide se esquivar, dar dois passos para trás, e fazer algo "menor", porém, com mais liberdade. Optou então por criar uma mixtape, e não um álbum de fato. "Era algo que as pessoas se importariam menos, olhariam menos, e eu poderia criar mais do meu jeito”, ela diz em uma entrevista para o podcast Dissect.

No discurso do Grammy, Doechii conclui: “I beared my life to this”, que em tradução livre seria: eu desnudei a minha vida (para esse trabalho).

Recriando histórias, revisitando suas origens, e fazendo algo que só ela seria capaz de fazer. Após se desprender de querer agradar seus empresários jacarés (alligator bites never heal) a todo custo, ou se render as fórmulas regurgitadas por tantos outros que hoje são os seus colegas, ela descobriu sua voz mais autêntica que vinha de uma originalidade - não de futuro, mas sim, do passado, de sua origem, e de todos aqueles que trouxeram ela até aquele palco.

A primeira meta do meu ano de 2025 era me entender e projetar como escritora. Com o subtexto de: na maioria dos dias, pelas manhãs, priorizar a escrita. O resto é o resto. ~~Meu Deus, como eu amo um marte em Escorpião.~~

Assim, das dez metas pessoais para o ano vindouro, cinco envolviam o saber e o prazer de estar escrevendo exatamente essas palavras, que agora, você lê:

conhecer editais de pesquisa e fomento a cultura na minha cidade (alô alô cariocas)
publicar colunas em revistas e portais de comportamento (sonho meu, sonho meu)
fazer oficinas de escrita (muito satisfeita com os cursos, queria escrever mais)
e escrever meu segundo livro (dessa vez, um romance)

E tudo começou com a simples realização de que eu era uma escritora. Afinal, quem seria esta? A que tem como maior prazer o ato de curvar as mãos, ouvindo a voz dos maiores inconscientes de sua obsessão? Aquela que publica seu trabalho e obras para afora dos seus mistérios? A que ganha a vida ou a que tem uma vida ganha dos próprios escritos?

Ainda no hoje, investigo e procuro essas respostas, vivendo pelas perguntas, e só sei que me faz sentido permanecer, e existir, entre as palavras.

No mais, espero contar com vocês durante muitos dos registros.

Torpedo, meu primeiro livro de poemas, você encontra aqui.

///// chamadinhos especiais

Agora não mais uma parceira, a Escrevedeira me concedeu a honra de ser uma embaixadora do centro de cultura e escrita. Tá, mas o que isso quer dizer na prática? Que eu, e vocês vamos ser beneficiados com 10% de desconto com o meu código BGVLS10 - não apenas nos cursos on-line ou gravados, mas também em todas as oficinas de escrita presentes na plataforma.

E ISSO É GIGANTE! principalmente lembrando das metas aqui de cima hihi. Assim, se você, assim como eu se reconhece nelas, considere entrar no site e navegar até aquela que mais se encaixa no seu projeto pessoal. Nesse mês, começaram seis oficinas na casa: 📌 no caminho da escrita autoral; 📌 escrever investigação e prática; 📌 escrever se aprende escrevendo (introdutório)
📌 conto: eu conto ou vocês contam?; 📌 crônica: laboratório de escrita de crônicas; 📌 poesia: poesia&: as palavras que você ainda não tem! <3

///// leituras de janeiro

Uau, somos 5K no Youtube! Se você está lendo isso, já me segue por lá? O último vídeo fiquei tão satisfeita não só com a repercussão, mas também com a produção que fiz, investindo nos melhores equipamentos, pensando em enquadramento, COISA LINDA, viu? bora que bora 2025