Hoje completo 24 anos. Ou um ano de vida útil restante aos olhos de Leonardo DiCaprio. E fora as mensagens que troquei com uma amiga australiana, também pisciana, essas são as primeiras palavras que concateno nessa nova idade, que não parece ser tão nova assim.
Ao contrário dos últimos anos, nesta troca de dígitos, não houve muito estardalhaço ou nostalgia por aqui, tão recorrentes na entrada do ano novo particular, o famoso inferno astral. Não sei a causa disso. Talvez a falta de terapia, os hormônios alterados pelo DIU, ou o simples fato de sentir que estou na hora certa, com as pessoas certas, e no lugar que faz tudo isso ser possível.
Lógico que não me esquivo das crises, mas esse ano particularmente, adotando uma expressão que eu sempre gostei muito, me encontrei na paz que excede todo entendimento. E, na condição de monja que me tornei, quero trazer as 24 coisas que aprendi aos 24 anos, bem Capricho 2023, espero que goste:
0. Matemática Básica A primeira coisa é que (pasmem) eu acabei de completar 24 anos, e não vou começar a ter 24 anos. Talvez pareça bem lógico aos engenheiros e matemáticos de plantão, mas não acho que seja tão óbvio a todos. Agora eu começo a minha existência até chegar nos 25, igual um bebê que completa um ano porque ele já fez um ano, socorro.
Se atente aos detalhes sempre. Com a vida sempre nos engolindo, e com o sucesso sendo sinônimo de correr com um copo de café na rua, esquecemos que os detalhes são o que nos faz sentir tudo outra vez, as vezes pela primeira vez. É como a sensação de estar sempre apaixonado, só que pela vida inteira.
Tenha um banco dos detalhes. Esse é muito implicado com o outro, mas na ausência de um diário, tente escrever algo que te fez sorrir em algum dia e guarde num copinho que você só vai abrir lá pra depois do Natal. Lembrar que todo mundo elogiou você naquela blusa azul, ou que você conseguiu aquela entrevista de emprego mesmo sem ter passado, pode trazer todos novos significados.
Entenda que a evolução nao é linear. Assim como o ideal da corrida eterna até o trabalho equilibrando bebidas quentes nas mãos, o capitalismo nos faz acreditar que há sempre um devir. Um vir a ser infindável, e que as respostas estão todas na promessa de um futuro, mas muitas vezes elas estão, justamente, no passado.
Você precisa ver o novo para sentir o novo. O viver nômade, em espírito ou em matéria, pode ser visto como luxo ou bizarrice em muitas culturas atuais. Mas, a busca pelo novo, mesmo que seja restrita a um restaurante diferente na hora do almoço, em uma quarta-feira, não deve ser abandonada em nenhuma idade.
Mesmo algo bom sempre vai vir com algo ruim. É a balança da vida. Ao realizar exercícios, ao tomar consciência, ao fazer escolhas, colocamos foco em diversas áreas da nossa vida — que irremediavelmente trarão dores e dúvidas, e conseguir ver encanto naquilo que não é de maneira explícita "bom" também há de nos levar a lugares bonitos.
Fique atento ao que você come. Costumamos sempre perguntar aos nossos amados como eles estão se sentindo, se podemos fazer alguma coisa para ajudá-los, porque em alguns raros momentos priorizamos a saúde mental. Porém, a biologia e a química também são vitais no desenvolvimento corporal e emocional. Longe dessa sessão ser algo punitivista, eu só queria lembrar que somos o que comemos. E penso que ao lado da pergunta como você está? precisaríamos perguntar também, o que você anda comendo? são alimentos que proporcionam energia? será que anda exagerando no álcool? ou anda esquecendo do chocolate no fim do dia? (Aqui merecia uma outra newsletter).
Saiba cozinhar para si mesmo (o básico). Já contei aqui todo o meu processo com essa descoberta na minha vida, e quanto que ela foi de suma importância no desenvolvimento da minha autonomia. Mas para além da formação de uma nova carga mental, saber cozinhar o básico é o mínimo que todos nós deveríamos estar empenhados em 2023. "Sou péssimo na cozinha" seguido de um risinho pela maior parte dos homens é inaceitável e constrangedor, porque necessariamente implica uma dependência de uma outra mulher o servindo ou de um ifood infinito. (Aqui também merecia uma outra newsletter).
Invista em luzes amarelas dentro de casa. Aqui eu me rendi a algo facilmente instalado e que não pede nenhum grande processo. Como boa pisciana introspectiva que sou, penso que não existe nada melhor do que estar na minha casa, particularmente na horizontal. Nesses momentos, uma luz amarela é sempre a melhor pedida. Essa cor, por ser mais quente que a luz branca, proporciona um clima muito mais intimista e aconchegante, na companhia de velas então, ulalá.
Compre um óleo de banho. Aproveitando que já estamos na lista de compras indispensáveis, vou usar desta sessão com o meu número favorito para trazer a palavra do óleo de banho — se possível aqueles de 1kg para servir de estoque pro ano todo. A pele vira outra completamente, além de ficar com um cheiro gostoso por muito mais tempo. Compre, e me agradeça.
Compre também um relógio de cabeceira. Aqui eu juro que termino a sessão Wallmart. O relógio físico faz com que não precisemos recorrer ao celular para ver que horas são nos primeiros segundos do dia, e automaticamente se estenda ao se atualizar de todas barbaridades mundiais ou superficialidades do Instagram. Ia falar para começar o dia meditando em jejum mas vamos aos poucos.
Entenda o valor do seu não. Renata Correa uma vez disse uma coisa que eu nunca mais esqueci. Mulheres precisam passar pelo aprendizado do não. Ou seja, para além de compreender o momento do não, precisamos processá-lo, acolhe-lo, honrá-lo e externá-lo. Processos que parecem simples, mas que na vida real, demoram décadas. Eu mesma só fui descobrir o valor do meu não no ano passado, e olha que ele era gigante.
Esteja sempre rodeada de mulheres. Tanto mais velhas, quanto mais novas. A vida, como já dizia em uma sessão lá em cima, é circular, e aprendemos muito com essas comadres espalhadas por mundo a fora. Se de quebra elas forem suas amigas, inteligentes, engraçadas, desencanadas e ligeiramente taradas. Você ganhou na loteria.
Porém saiba estar sozinha. Assim como tivemos que passar pelo aprendizado do não, nadando contra toda corrente de agradar e satisfazer o outro, saber habitar espaços sozinha e não ter que estar com alguém para ser validada, para uma mulher, é gigante. Uma ida ao cinema toda semana, uma viagem à São Paulo, ou uma sexta-feira em casa, podem ser o começo daquilo que sempre foi o princípio: nascemos sozinhas e vamos morrer sozinhas.
Valorize o diálogo. Nem tudo precisa ser dito, mas algo precisa ser dito. Muitas vezes nóias acumuladas por meses a fio, e desentendidos escabrosos podem ser aniquilados na presença de minutos de conversa. O valor do diálogo habita justamente nele estar suspenso em muita sinceridade, vulnerabilidade e maturidade. Por isso saiba escolher também aqueles que merecem seu tempo e suas palavras.
Beije lento sempre que possível. Aqui eu preferia falar menos, e sentir mais, confesso.
O conceito de vencer na vida é uma prisão. Me volto aos meus escritos com 19 anos: "Não ache que você sabe de tudo. Há sempre mais. Não se sinta superior a ninguém. Suprima seu ego em ordem a ser igual a todos (…) Proteja-se de todo tipo de ganância. Perceba o divino no extraordinário (…) Faça o melhor com o que se tem hoje. A felicidade não reside na satisfação condicionada, mas em fazer as pazes com o tempo".
Leitura sem feitura vira pó. Recentemente, aprendi a fazer fichas de leitura á la français no mestrado, e me atentei que de fato quando não expandimos a leitura pro mundo ela se esgota na gente, como tudo na vida. Lembrando que longe de ser utilitarista, essa feitura pode vir em forma de foto de um trecho que você pensou em alguém, ou em clubes de leitura, ou até numa crônica semanal. Aí que brota a qualidade em cima da quantidade.
Exclua ao máximo a carne da sua vida. Coloquei essa bem no meio escondidinha pra não afugentar ninguém nem o fio da meada. Mas fato é que senti necessidade de colocar isso aqui, porque foi o que sempre deu certo pra mim. Já tendo sido vegetariana por um tempo, hoje me permito comer carne de vez em quando, e não é por isso que deixo de fazer a diferença. Se não for em nome de toda humanidade, que seja pelo menos da sua.
Por mais que seja confuso, as respostas estão sempre em você. Por vezes, com uma nuvem em cima, não conseguimos enxergar-chegar a conclusões no momento em que achávamos ser o certo — e que bom. A verdade é que não existe apenas uma resposta e sim muitas possibilidades que no encontro com as suas subjetividades, florescem ou não. A boa notícia é que isso cabe no tamanho do seu sorriso para cada uma delas.
Lembre-se que a liberdade é a clareza dos desejos. Essa é uma outra frase que nunca mais esqueci, dessa vez da boca de Chico Bosco. Fato é que essa liberdade em questão é simbólica, e por vezes, individual. Nem sempre vamos estar libertos para expressar nossos desejos, mas se ao menos trabalharmos na escavação e clareza deles, já é um começo de caminho.
Nunca saia igual de nenhum encontro. Quando eu penso nisso, me lembro do porquê ter escolhido a Antropologia, e até mesmo o Jornalismo em um primeiro momento. Porque ambos me recordam do meu constante compromisso com a vida. De sempre ver por trás das árvores e reconhecer as múltiplas formas de conceber a vida.
Não espere a validação externa que precisa nascer interna. Essa aqui talvez todos nós vamos morrer tentando, mas não custa frisar. Me lembro de uma história contada pela Fernanda Torres, no Roda Viva, quando ela era muito novinha. Ela dizia que em uma semana tinha sido negada algumas vezes para compor o núcleo de alguma novelas. Desempregada, começou até a duvidar de si mesma e do seu potencial como atriz. Quando no dia seguinte, ela recebe um telefone de um amigo dizendo que ela havia ganhado a Palma de Ouro. Ou seja, a mesma Fernanda que não é escalada para a novela das nove, é a mesma que ganha prêmio em Cannes, porque no final das contas ela não é nem um nem outro. E muito menos nós.
Lembre-se que somos gente. E as vezes não damos conta, não conseguimos, falhamos, nos equivocamos, nos entristecemos. E assim como plantinhas ribeirinhas da encosta, só precisamos de ar puro, água, nutrição e descanso, para começar mais um dia.
Só quem conhece o grande sabe o que é pequeno e aqui me despeço. Essa máxima que levarei até o meu último sopro, aprendi observando minha amiga Letícia engravidando e parindo um ser no mundo. E como todas as prioridades dela mudaram. E como todo o resto pareceu tão pouco. Tão pouco, tão pouco, que não restou nada depois daqui.
Se você chegou até o final dessas quatro laudas, muito obrigada. Me conta qual descoberta mais mexeu contigo? ou se lembrou de outra coisa? O gostoso é sempre a troca, não ser sozinho, nem sombra de ninguém.
No mais, um beijo bem lento, da mais nova 24’s.
PS: Aceito pix de dia das mulheres e de aniversário.
Obrigada.